Para quem está morrendo afogado, jacaré é tronco
Eu perdi uma eleição amarga, enfrentando duas máquinas
onipresentes na política do Maranhão, e ainda o surgimento de um novo fenômeno
político nacional que contribuiu para afastar as possibilidades do PSDB surgir
com chances de crescimento.
De todos os grandes partidos, fomos o único com presença
nacional que não se aliou às duas candidaturas principais.
Minha candidatura, montada pelo PSDB para ajudar o palanque
de Geraldo Alckmin - homem público que honra a vida nacional - representou um
esforço enorme que, por conta das circunstâncias que todos conhecem, acabou num
ponto cego do radar eleitoral.
Ainda assim, não sou daqueles que buscam culpados para as
vicissitudes da política. Há que aprender as lições e seguir em frente. Por
isso estranhei quando o ex-governador José Reinaldo, de posse dos resultados
eleitorais, apontou um único culpado pela derrota de seu pleito. E esse culpado
seria eu!
Mas não fui eu que ofereci a ele a única chance de competir
por um partido com tempo de televisão e fundo eleitoral? Não fui eu quem
prestigiou a sua chegada ao PSDB com a presença em meu gabinete de lideranças
nacionais do partido?
E pior, ele ainda guarda palavras de elogio em seu artigo ao
atual governador, que de forma infame o escorraçou, e guarda silêncio a quem
com tanto sacrifício, Madeira e Alckmin, lhe dispensaram todas as honras para
viabilizar a sua candidatura.
Para agradar o governo comunista, e conseguir no próximo ano
um emprego, será que precisa ser tão medíocre?
“A mão que afaga é a mesma que apedreja”, lembrando os versos
do poeta Augusto dos Anjos, que compara a ingratidão a uma pantera.
Não posso deixar de lembrar disso, ao saber a bisonha
explicação que foi a ausência do filho de um ilustre vereador de Caxias na sua
chapa que tirou-lhe as chances de competir. O que mais dizer?
Que todos os candidatos a deputado do partido assinaram um
documento manifestando apoio a candidatura de Waldir Maranhão e Alexandre
Almeida, mas que eu contornei, e depois de muita conversa acatamos a indicação
da irmã do prefeito de Pinheiro para compor a chapa de José Reinaldo? Que ele
foi o único que recebeu 100% da verba do fundo eleitoral, a que nem mesmo eu
recebi integralmente? Que fez sua
campanha no Rádio e na TV e nos impressos sem citar os nomes dos candidatos a
governador e presidente da República do partido que financiava sua campanha?
Ele sabe que eu só tinha a candidatura registrada, mas na
maior parte do tempo fiquei com minha família, por causa do grave problema de
saúde com meu filho. Sabe que estou em São Paulo, com meu filho, que está
internado no hospital fazendo quimioterapia. Sabe que bem no início da campanha
meu filho teve agravado seu estado de saúde. Sabe que naquele momento só não
retirei oficialmente a candidatura para não ser acusado de estar a serviço do
adversário. Sabe que os poucos programas que gravei eram frequentemente
repetidos, e que no final foi contratada uma atriz porque não conseguia mais
gravar. Ele sabe que esperei, em casa, a única oportunidade de estabelecer o
contraste, a diferença, entre os candidatos a governador, que foi o debate da
Globo/Mirante. Nunca fui a uma reunião com nossa equipe para me preparar para
esse debate, que foi o primeiro da minha vida. E foram feitas quase 10
reuniões.
Fiquei em casa, vivendo os dias mais difíceis da minha vida,
à beira de uma depressão, bebendo para dormir, e acordando para beber.
Uns preferem se drogar, outros se suicidar, a minha fuga da
realidade era dormir. Nunca chorei tanto em minha vida, mas escondido.
Não é tarefa fácil para um pai parecer forte diante da
enfermidade grave de um filho querido e amado. Eu pensava que era um homem
forte, mas agora eu conheço minhas maiores fraquezas, meus limites.
Então agora, com os resultados conhecidos, o culpado pela
derrota do ex-governador e do PSDB foi Roberto Rocha? Decerto ele sabia, desde
o início, do tsunami eleitoral que varreria o pleito. Decerto sabia que ainda
assim, a bordo do PSDB, teria a única chance de vitória. Ele diz que foi uma
exceção, num deserto de ideias. Que foi o único que discutiu propostas para o
Maranhão. Pois é. Durma-se com um barulho desses.
Termino mais uma vez lembrando o poeta. “Ninguém assistiu ao
formidável enterro de tua última quimera. Somente a ingratidão, esta pantera,
foi tua companheira inseparável.”
E meu saudoso pai me ensinou: “Em rio que tem piranha, jacaré
nada de costas”. E eu completo: Para quem está morrendo afogado, jacaré é
tronco.
(Roberto Rocha, senador)
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