Manifestação na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte,
contra o projeto de lei que pune abuso de autoridade e a favor da Lava Jato e
de Bolsonaro (Telmo Ferreira/FramePhoto/Folhapress)
Manifestações realizadas em dezenas de cidades neste domingo,
25, em defesa da Operação Lava Jato e do veto total ao projeto de lei que pune
abuso de autoridade aprovada pelo Congresso tiveram críticas ao presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e ao Supremo Tribunal Federal, em especial o seu
presidente, Dias Toffoli.
Em ato organizado por apoiadores do governo neste domingo,
25, em Belo Horizonte, manifestantes atacaram o STF e cobraram do presidente
Jair Bolsonaro veto total ao projeto de abuso de autoridade, avaliada pelos
manifestantes como um caminho para reduzir o combate à corrupção e o impacto de
operações como a Lava Jato.
Em Belo Horizonte, sanitários químicos alugados por
fundadores do Patriotas, que participaram da organização do ato junto com o
movimento Vem Pra Rua, tiveram cartazes pregados com a inscrição “STF –
Sanitário Togado Fedorento”. Pela primeira vez em atos pró-Bolsonaro na capital
mineira ataques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficaram em
segundo plano.
“As pessoas elegeram Jair Bolsonaro para ele mudar o que
vinha ocorrendo no País em relação à corrupção”, afirma a coordenadora do Vem
Pra Rua na cidade, Kátia Pegos, que acredita em possível perda de apoio da
população ao presidente caso a lei não seja vetada integralmente.
Para a militante, as instituições estão querendo se blindar
contra investigações. “Há indícios de que o presidente não está sendo tão
incisivo como deveria nesta questão. Bolsonaro não tem que ter medo de
enfrentar deputados, senadores ou ministros do STF. O povo está com ele”,
disse.
Mensagens eram exibidas e lidas por manifestantes do alto de
um caminhão de som do Vem Pra Rua. “Não elegemos Bolsonaro para abafar investigações
contra bandidos”, dizia uma delas. “Veta tudo, Bolsonaro”, afirmava outra.
Faixas e cartazes também cobravam o veto do presidente à lei.
Com o embate ao longo da semana entre o governo brasileiro e
países europeus sobre as queimadas na Floresta Amazônica, o tema também acabou
sendo incluído na manifestação na capital mineira. Participantes do ato
reclamaram da reação dos governos estrangeiros às queimadas.
Com uma bandeira da França em que se lia “a Amazônia é nossa.
Respeitem nossa soberania”, a advogada Fátima Lima, de 59 anos, reclamou das
críticas do presidente do país, Emmanuel Macron, sobre as queimadas. “A França
está cheia de problemas internos. O que ele quer é usar a Amazônia de forma
política para se reeleger”, disse.
Brasília
Na capital federal, ato organizado pelo Vem Pra Rua reuniu
cerca de 5 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios na manhã deste domingo, 25,
segundo estimativas dos próprios organizadores. A Polícia Militar não divulgou
números de participantes no protesto e não foram registradas ocorrências.
Boneco representando o ministro Sergio Moro como Super-Homem
em ato na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (Wagner Pires/Futura
Press/Folhapress)
O ato pediu o veto ao projeto de lei que pune abuso de
autoridade e o impeachment de Toffoli. Além disso, outras duas bandeiras do
protesto eram a manutenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cadeia
e a escolha do procurador Deltan Dallagnol para a Procuradoria-Geral da
República (PGR).
Os manifestantes se reuniram em frente ao Congresso Nacional
pela manhã, vestidos de verde e amarelo. Havia um boneco inflável do ministro
da Justiça, Sergio Moro, vestido de super-homem.
Rio de Janeiro
O humorista Marcelo Madureira teve que sair escoltado pela
Polícia Militar de um ato organizado pelo Movimento Vem Pra Rua na praia de
Copacabana, no Rio, por fazer críticas ao governo Jair Bolsonaro.
Do alto do carro de som, ele foi alvo de gritos de “fora” e
“desce, teu carro é outro” por parte de manifestantes vestidos de verde e
amarelo e com camisas com o rosto do presidente da República e do ministro da
Justiça e Segurança, Sergio Moro.
“Não tenho medo de vaias. Votei no Bolsonaro e vou criticar
todas as vezes que for necessário. Como justificar uma aliança do Jair
Bolsonaro com o Gilmar Mendes para acabar com a Operação Lava Jato? É isso que
está acontecendo”, disse Madureira antes de ter o microfone cortado.
Marcelo Madureira durante protesto no Rio, no qual teve que
sair escoltado pela PM após criticar Bolsonaro (Saulo Angelo/Folhapress)
Os organizadores tiveram que apelar ao público para “não
dividir o movimento”. Pouco depois, Madureira desceu e foi escoltado por
policiais militares até um táxi, recebendo vaias de alguns e os parabéns de
outros. “É uma minoria de pessoas que não sabem viver em um regime democrático.
O governo está fazendo coisa errada”, disse.
O Movimento Vem Pra Rua escolheu a casa do presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) como um dos dois pontos de concentração no Rio.
Ele é visto pelo movimento como o comandante de “manobra” que levou à aprovação
“à toque de caixa e de madrugada” do projeto de abuso de autoridade pelos
deputados federais no último dia 14.
Maestantes em frente à casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em São Conrado, no Rio de Janeiro (@EliOliv98248502/Twitter)
Por volta das 10h30 cerca de 80 pessoas vestidas de verde e
amarelo se concentraram na porta do prédio de Maia, na praia de São Conrado,
aos gritos de “Fora Maia” e “Veta Bolsonaro”. Também levavam cartazes e faixas
com inscrições como “Rodrigo Maia Inimigo da Lava Jato” e “Botafogo apoia a
corrupção”, em referência ao suposto codinome atribuído a Maia em planilha da
Odebrecht.
O texto aprovado na Câmara define os crimes de abuso de
autoridade cometidos por servidores públicos, militares, membros dos poderes
Legislativo, Executivo, Judiciário, do Ministério Público e dos tribunais ou
conselhos de contas. A proposta lista uma série de ações que poderão ser
consideradas crimes com penas previstas que vão de prisão de três meses até 4
anos, dependendo do delito, além de perda do cargo e inabilitação por até cinco
anos para os reincidentes.
Na ocasião Maia disse que o texto aprovado é o mais justo,
por abranger todos os Poderes: “O texto é o mais amplo, onde todos os poderes
respondem a partir da lei”, destacou.
“É uma lei que não está protegendo o cidadão comum, mas os
bandidos da velha política. O vetar tudo seria o recado de que ele (Bolsonaro)
não vai retroceder na luta contra a corrupção”, disse a coordenadora do Vem Pra
Rua no Rio, Adriana Balthazar, para quem Maia é considerado um traidor.
O presidente Jair Bolsonaro vem sofrendo pressão de
políticos, entidades de classe e até de Moro para barrar a lei. A medida é
vista como uma reação do mundo político à Operação Lava Jato, pois permitiria
criminalizar condutas que têm sido comuns em investigações no País. Na quinta-feira,
22, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao presidente que
vete o texto.
“O que temos visto é um ataque orquestrado contra algumas das
maiores instituições do País, responsáveis pela maior operação anticorrupção do
mundo, como o Ministério Público e seus agentes”, diz o Vem Pra Rua no texto de
convocação da manifestação.
Durante o ato, os manifestantes criticaram a retirada do
Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Justiça.
Por medida provisória, o órgão foi transferido para o Banco Central,
transformado, teve seu nome mudado para Unidade de Inteligência Financeira e
sua composição alterada, permitindo o recrutamento de integrantes fora do
serviço público o que foi visto como uma forma de abrir o órgão para indicações
políticas.
Vestida com uma camiseta com a foto de Moro e a hashtag
#Morobloco, a manifestante Suzana Correa disse que a fritura do ministro pelo
governo Bolsonaro ” é coisa da imprensa”. Afirmou, porém, que o ex-juiz e o
ministro da Economia, Paulo Guedes, são os pilares do atual governo. “Não sou
Bolsonaro, votei contra o que estava aí”, disse.
(Com Estadão Conteúdo e Veja)
0 Comentários