Do UOL, em São Paulo
Análise do celular de Décio Gouveia Luiz, preso em agosto
deste ano, aponta ligação do PCC com o cartel mexicano de Sinaloa Imagem: Divulgação/Polícia
Civil
Uma investigação da Polícia Civil em São Paulo aponta mais um
indício de internacionalização do PCC (Primeiro Comando da Capital):
suspeita-se que a facção paulista mantenha negócios com o cartel mexicano de
Sinaloa, criado na década de 1980 por Joaquín Guzmán Loera, conhecido como El
Chapo.
Os sinais de vínculo com a gangue do México vêm à tona pouco
tempo depois de as polícias europeias identificarem ligação entre o PCC e a
máfia italiana 'Ndrangheta, considerada como a maior máfia em atividade no
mundo.
Segundo o Ministério Público, com base em investigações da
polícia, o cartel mexicano é um "grande fornecedor de drogas em larga
escala para o PCC, abastecendo tanto o mercado interno quanto exportando drogas
para a Europa".
O MP ofereceu uma denúncia em 30 de agosto contendo essas informações.
Marcola continua preso Imagem: Divulgação |
O documento, assinado pela promotora Silvia Vieira Marques, da Segunda Promotoria de Justiça Criminal da Capital, afirma que foi encontrada uma foto com o brasão do cartel mexicano de Sinaloa no celular de Décio Gouveia Luiz, conhecido por Decinho e apontado como braço direito do líder do PCC.
Decinho foi preso em agosto deste ano e também é acusado de
envolvimento na transmissão de ordens de Marcola, líder do PCC, que queria
matar o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo.
O MP (Ministério
Público) também alerta que faltam apenas mecanismos mais requintados de lavagem
de dinheiro para que o PCC passe de organização criminosa para o patamar de uma
máfia.
Joaquin Guzman Lera, El Chapo, escoltado durante processo de
extradição para os Estados Unidos Imagem: Ministério do Interior do México/AFP
Conexão latina
O cartel de Sinaloa opera em mais de 50 países e é apontado
por órgãos de investigação internacionais como a maior organização criminosa
das Américas e a quinta organização mais perigosa do mundo. Sua receita líquida
supera a do antigo Cartel de Medellín, na Colômbia.
Investigações mexicanas apontam que seu lucro é de R$ 3
bilhões ao ano, tendo como principal função o fornecimento de cocaína para
outros países.
Diferentemente dos demais cartéis da América Latina, que
impõem presença pela violência, o cartel de Sinaloa costuma realizar trabalhos
comunitários para populações carentes e suborna policiais. Essa estratégia era
a mesma adotada pelo PCC no Brasil, antes de ocorrer uma ruptura com o CV
(Comando Vermelho).
Na Europa
Até o momento, já se sabe que uma ligação transnacional do
PCC começou a ser entrelaçada, de forma mais efetiva, em meados de 2016. A
máfia italiana 'Ndrangheta é uma das principais aliadas da facção brasileira.
Para operar no Brasil, a máfia estabeleceu acordos com o PCC.
Em dois anos, ao menos três homens com cargos de liderança na Itália estiveram
com a organização brasileira, de acordo com investigações europeias. Existe a
suspeita de que outros dois também estejam ou tenham passado por São Paulo com
a mesma finalidade.
O interesse da 'Ndrangheta em São Paulo é negociar
diretamente com o PCC —a única organização criminosa brasileira que exporta
cocaína para outros continentes. Desde Santos (SP) sai grande parte da droga
importada pela máfia italiana, que lucra com a revenda na Europa.
Segundo as investigações europeias, entre 2017 e 2018, foram
enviadas à Europa cerca de duas toneladas de cocaína, avaliadas em cerca de R$
1 bilhão. Os principais portos do país de onde há interferência do crime
organizado são os de Santos (São Paulo), Salvador (Bahia), Itajaí (Santa
Catarina) e o da capital do Rio de Janeiro.
Moraram em São Paulo, por pelo menos um ano, Nicola Assisi,
considerado por fiscais antimáfia italianos como o principal integrante da
'Ndrangheta, e seu filho, Patrick Assisi. Eles foram presos, em julho deste
ano, em um apartamento na Praia Grande, litoral de São Paulo, área identificada
por policiais brasileiros como domínio do PCC. Nicola seria o responsável por
coordenar negócios desde o porto santista. O acusado de negociar com os Assisi
também foi preso, no mês passado: André de Oliveira Macedo, o André do Rap, que
mandava nos negócios do PCC em Santos e era apontado como o homem de confiança
de Gilberto Aparecido dos Santos - que é o braço direito de Marcola e que está
foragido.
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