Colunista do UOL
Jair Bolsonaro e Sérgio Moro Imagem: Mateus Bonomi/AGIF |
Jair Bolsonaro chegou ao Planalto impulsionado pelas duas maiores forças eleitorais da sucessão de 2018: o lavajatismo e o antipetismo. Principal símbolo desses movimentos, Sergio Moro converteu-se numa alavanca que Bolsonaro não hesitou em utilizar. Agora, autoconvertido em delator do governo a que serviu como ministro da Justiça por um ano e quatro meses, o mesmo Sergio Moro tornou-se uma bola de ferro com potencial para afundar a Presidência de Bolsonaro.
A raiva que levou Bolsonaro a chamar Moro de Judas,
pendurando-o num poste virtual para ser malhado nas redes sociais, é compatível
com o medo que o presidente sente do seu ex-ministro. Moro reagiu ao ataque de
Bolsonaro como a frieza de alguém que imagina estar jogando xadrez com uma
ameba: "Há lealdades maiores do que as pessoais", escreveu no
Twitter. Foi como se anotasse: "Não sou traidor, fui traído."
Interrogado pela Polícia Federal neste sábado, Moro produziu
mais de oito horas de revelações e contextualizações. O deputado Eduardo
Bolsonaro, filho Zero Três do alvo do depoente, vestiu a carapuça no Twitter:
"Realmente é preciso muito tempo dando depoimentos a delegados amigos para
ver se acham algo contra Bolsonaro. Moro não era ministro, era espião."
Se Moro tivesse trocado a 13ª Vara Federal de Curitiba por um
seminário, teria espionado lições de teologia. Se tivesse migrado do epicentro
da Lava Jato para um governo sério, não teria colecionado senão ordens
republicanas de um presidente honrado.
Se o ex-juiz da Lava Jato decidiu deixar o governo batendo a
porta e acusando Bolsonaro de tramar o aparelhamento político da Polícia
Federal foi porque o seu ex-chefe forneceu material. Se o depoimento de Moro
durou mais de oito horas é porque o material fornecido pelo capitão é farto e
eloquente.
Na prática, a pretexto de acusar Bolsonaro, Moro termina por
se autoincriminar. Ninguém convive impunemente com um governante desqualificado
por 16 meses. O risco da desqualificação pessoal como que qualifica o
depoimento de Moro.
Acometido pela síndrome do que está por vir, Bolsonaro reage
à moda do PT. Em vez de se defender, acusa. Podendo construir a própria
biografia, investe na destruição da imagem do seu acusador.
Intimado
pela conjuntura a provar seu compromisso com a moralidade, Bolsonaro articula
uma aliança com o anacronismo aético do centrão. Esse tipo de estratégia levou
Dilma Rousseff ao impeachment e Lula à cadeia.
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