Da Coluna do Sarney
José Sarney: jornalista e ex-presidente do Brasil |
A humanidade foi surpreendida por uma ameaça que, embora profetizada por esporádicas vozes, nunca foi levada a sério. Ao longo de nossa história atravessamos muitas doenças que dizimaram populações inteiras, mas todas elas foram superadas.
A última grande e fundada ameaça foi a descoberta da fissão
atômica. Ele deu ao homem o domínio de liberar forças gigantescas, capazes de
destruir imensas regiões da Terra. A primeira noção que tivemos da brutalidade
desse poder veio quando, estarrecido, o mundo viu as tragédias de Hiroshima e
Nagasaki. E não existe nenhuma garantia de que ela não possa fugir do controle
do homem e antecipar a catástrofe da destruição da vida na face da Terra com os
instrumentos que o próprio homem construiu.
Hoje o arsenal de ogivas nucleares armazenados pelos países
que dominam a fissão e a fusão nuclear é de mais de nove mil, somadas as de
todas as potências nucleares. Daí o esforço do mundo inteiro no sentido de
conter esse avanço através de organismos e tratados internacionais. No fundo a
luta pelo poder hegemônico do mundo repousa sobre a força.
Esse esforço e essa corrida armamentista monstruosa –
retomada nos últimos tempos por Trump e Putin – de repente foi colocada em
segundo plano. A ameaça mais eficaz e rápida apareceu de um micro-organismo
que, para ser visto, precisa ser aumentado 1 milhão de vezes num microscópio
eletrônico.
A ameaça das doenças desconhecidas mostrou suas garras na
pandemia da Covid-19, cuja capacidade destruidora, que atinge todos os setores,
econômicos, sociais, políticos e globais, nunca tinha sido sonhada pela
humanidade.
Se as potências mundiais tivessem concentrado seus recursos
na busca do controle científico da saúde humana, em vez de empenhá-los na
sofisticação das armas, talvez não estivéssemos passando esta crise previsível
e anunciada, capaz de revirar o mundo de cabeça para baixo, nos deixando sem
saber o que vem do futuro: o caos ou um mundo transformado, mais humano e
solidário, de olhos voltados para o próprio homem e não para o domínio de povos
sobre povos olhos voltados para o próprio homem e não para o domínio de povos
sobre povos.
O homem esqueceu que ele é vulnerável a si próprio e não deve
buscar a força e com ela destruir a obra construída pela mais
bem-sucedida espécie de mamífero, em que Deus nos deu a graça da vida, o Homo
sapiens, que existe há 350 mil anos, um nada diante da eternidade.
E o Brasil? Em meio a esse transcendental desafio, em vez de
inserir-se no esforço mundial para enfrentar o Corona, fica mergulhado em lutas
estéreis, em confrontos menores, quando devia concentrar todas as suas forças
numa união geral, sem qualquer barreira e defender-se do desastre que ameaça a
humanidade.
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