Do UOL, em São Paulo
Ex-ministro da Saúde, Nelson Teich Foto: Júlio Nascimento/Divulgação PR |
Menos de um mês após assumir o Ministério da Saúde, Nelson Teich deixou hoje o comando da pasta. A saída de Teich acontece em meio a atritos com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em especial sobre o uso da cloroquina no tratamento da covid-19.
A curta passagem de Teich pelo ministério foi marcada por
desentendimentos com Bolsonaro e também com os secretários estaduais, críticos
à sua atuação à frente da pasta.
Teich havia assumido a chefia da pasta no dia 17 de abril
para substituir Luiz Henrique Mandetta. Ele é o segundo ministro da Saúde a
cair em meio à pandemia do novo coronavírus. Relembre as principais polêmicas
da passagem de Teich pela pasta.
Pressionado a liberar
cloroquina
O uso da cloroquina, que já havia sido motivo para embates
entre Bolsonaro e o ex-ministro Mandetta, voltou a causar desconforto entre o
presidente e o Ministério da Saúde sob o comando de Teich.
Ontem, em reunião com empresários, Bolsonaro garantiu que o
ministério iria mudar o protocolo do medicamento. O presidente é a favor do uso do remédio em
todos os casos, e não apenas nos mais graves.
O próprio Teich fez
esta semana uma alerta sobre o uso da cloroquina. Em uma série de tuítes, o
ministro alertou que o remédio tem efeitos colaterais e que qualquer prescrição
deve ser feita com base em avaliação médica.
Estudos recentes publicados em periódicos internacionais
indicam que não há comprovação de eficiência no uso da cloroquina em casos de
coronavírus. Um estudo publicado no Jama (Journal of the American Medical
Association) observou 1,4 mil pacientes e concluiu que "os tratamentos com
hidroxicloroquina, azitromicina ou ambos não foram significantes quanto à mortalidade".
A conclusão corrobora outro estudo, publicado no New England Journal of
Medicine na semana passada.
Além disso, a OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma que
"não há tratamento específico para a doença causada pelo novo
coronavírus".
Perguntado em entrevista coletiva sobre o uso de remédios no
tratamento à covid-19, Teich citou com ressalvas o remdesivir, um antiviral,
deixando de lado a cloroquina defendida por muitos apoiadores de Bolsonaro.
Pego de surpresa em
coletiva
Em um sinal de falta
de comunicação com o governo, Teich foi surpreendido durante uma coletiva de
imprensa ao saber por um jornalista que Bolsonaro havia incluído salões de
beleza e academias de ginástica entre os serviços considerados essenciais
durante a pandemia do novo coronavírus.
"Saiu
hoje?", reagiu ao ser questionado por um repórter, que queria saber se o
Ministério da Saúde concordava com isso e se houve alguma orientação da pasta
para a tomada dessa decisão.
Isolamento social e
lockdown
Contrariando o que vem sendo defendido por Bolsonaro, Teich
afirmou, no início de abril, ser favorável à manutenção do isolamento social
para evitar a disseminação do coronavírus. Bolsonaro é crítico à medida e
defende o isolamento parcial, que prevê que apenas pessoas que fazem parte do
grupo de risco da doença fiquem em casa. A defesa do isolamento social foi um
dos pontos que levou à queda do ex-ministro Mandetta.
Nesta semana, Teich também sofreu um revés ao ter seu plano
sobre o isolamento social negado por municípios e estados. Após garantir que
apresentaria o plano na última quarta-feira (13), a coletiva de imprensa foi
cancelada minutos antes de ocorrer.
O ex-ministro havia adiantado que o plano incluiria vários
níveis de medidas de distanciamento e disse que o lockdown seria necessário em
locais com uma situação "muito difícil" do coronavírus. Ele disse
ainda que, em outros lugares, haveria a sugestão de afrouxamento do isolamento.
Ministro se atrapalhou
ao colocar máscara
Em sua primeira viagem
oficial como ministro, Teich foi flagrado em vídeo se atrapalhando para colocar
uma máscara usada no combate ao coronavírus. O vídeo foi registrado no
Amazonas, onde o sistema de saúde entrou em colapso devido à covid-19.
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