Carlos Bolsonaro Foto: Renan Olaz/Divulgação CMRJ |
Carlos Bolsonaro tinha apenas 17 anos quando seu pai, Jair Bolsonaro, o incumbiu de uma árdua tarefa: derrotar a mãe, a então vereadora Rogéria Bolsonaro, nas eleições para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Soldado leal, Carlos cumpriu a missão. Candidato oficial de
Jair nas eleições de 2000, ele conquistou 16 mil votos, tirou votos de Rogéria
e frustrou a tentativa de reeleição da mãe, que obteve apenas 5.000.
Passados 20 anos, o filho do presidente terá a oportunidade
de redenção na eleição municipal deste ano, quando poderá usar sua influência
para eleger Rogéria vereadora. Apesar dos apelos do pai, Carlos ainda não
decidiu se ele próprio buscará a reeleição novamente.
Primeira mulher de Bolsonaro, Rogéria foi eleita vereadora em
1992, abençoada pelo marido, então deputado federal. Jair enxergava o mandato
como uma extensão de seus poderes –ela deveria consultá-lo sobre matérias
polêmicas e seguir suas orientações.
A mãe dos três filhos políticos de Bolsonaro (Flávio, Carlos
e Eduardo) se reelegeu em 1996. Logo em seguida, veio a separação do casal.
Alegando que a ex-mulher já não respeitava mais suas decisões, ele a acusou de
infidelidade e sabotou sua campanha em 2000.
Bolsonaro primeiro foi à Justiça na tentativa de impedir que
Rogéria usasse seu sobrenome na campanha. Sem sucesso, decidiu derrotá-la nas
urnas. Como precisava encontrar alguém que pudesse fazer frente a Rogéria, que
carregava o nome da família, o então deputado fez uma enquete entre seus aliados,
e o escolhido foi Carlos.
A disputa foi tensa. À época, Rogéria chegou a acusar
Bolsonaro de ter ordenado o espancamento do assessor Gilberto Gonçalves, preso
enquanto distribuía panfletos em favor de sua candidatura.
"Isso prova o desequilíbrio mental e psicológico do
deputado, que chegou a colocar o filho de 17 anos de idade a concorrer contra a
própria mãe", disse Rogéria na ocasião, segundo reportagem do jornal
Tribuna da Imprensa, publicada em setembro de 2000.
Com 17 anos, Carlos precisou ser emancipado para concorrer
naquela eleição. Como faz aniversário em dezembro, ele pôde assumir o cargo
porque já era maior de idade quando tomou posse, no início de 2001.
"Jair o lançou, mas nem acreditava que iria
elegê-lo", contou à Folha de S.Paulo o chefe de gabinete de Carlos na
Câmara Municipal, Jorge Fernandes.
A entrevista aconteceu em abril do ano passado, em meio à
apuração sobre o uso de funcionários fantasmas no gabinete do filho do
presidente.
Na ocasião, Jorge Fernandes afirmou que ele próprio deu a
notícia da vitória de Carlos a Jair Bolsonaro. O jovem havia superado nomes
como o do cantor Agnaldo Timóteo. "Liguei pro Jair, ele não acreditou,
falou: 'Como assim tá eleito?' [Respondi]: 'Tá eleito, foi o terceiro, entrou
na sobra'", disse. Segundo o chefe de gabinete, Carlos aceitou
tranquilamente a missão de derrotar a mãe. "Carlos morre pelo pai. Ele
gosta muito da Rogéria, ajuda em tudo. Mas é Deus no céu e o pai dele na
terra."
A adoração fica evidente na defesa que o vereador faz de Jair
Bolsonaro, seja nas redes sociais ou no Planalto, ao criar desentendimentos com
aliados que acusa de traição.
Sua lealdade também ficou explícita em dois momentos cruciais
da vida do pai.
O "pitbull" da família não arredou pé do hospital
onde o presidente esteve internado após ser vítima de um atentado a facada, em
meio à campanha de 2018. Já na cerimônia de posse presidencial, Carlos foi o
único filho a aparecer atrás do pai durante desfile em carro aberto. Ao mesmo
tempo, segundo interlocutores, Carlos sente ciúmes das mulheres com quem o pai
se casou após se separar de sua mãe. Além de escolher o próprio filho para
derrotar Rogéria, Jair entregou a chefia do gabinete de Carlos para Ana
Cristina Valle, sua mulher à época.
Neste ano, ele terá mais uma importante chance de defender a
mãe. No fim do mês passado, ambos se filiaram ao Republicanos, partido do
prefeito Marcelo Crivella, visando as eleições municipais.
Vereador mais votado no Rio, Carlos ainda não decidiu se será
candidato outra vez. Desde 2018 ele se mostra insatisfeito com o trabalho no
Legislativo carioca, do qual se licenciou por quatro vezes durante a campanha
do pai. A interlocutores chegou a dizer que pensava em se mudar para Santa
Catarina, para onde viaja com frequência.
Caso abra mão da própria candidatura, o filho do presidente
poderá concentrar os esforços na campanha da mãe e devolver-lhe a cadeira da
qual a destituiu há 20 anos.
Fonte: Folha Press
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