Nem Partido da Mulher lança mais mulher do que homem
Reprodução: Imagem/Agência Brasil |
O crescimento da
participação de mulheres e negros nas eleições deste ano não se reflete de
forma expressiva em um ponto crucial, a corrida pelo comando das 95 maiores
cidades do país, que concentram 40% da população brasileira e onde os partidos
mantiveram a tendência de indicar homens brancos para a disputa.
De acordo com dados
da Justiça Eleitoral compilados pela Folha, 8 em cada 10 candidatos a prefeito
nessas cidades são homens, com destaque para Norte e Nordeste. Se levada em
conta a cor declarada da pele, 70% são brancos, com maior prevalência no Sul.
A cota de
candidaturas femininas, que é de pelo menos 30% vagas, é cumprida com a
ocupação das vagas de vice, a candidatura em cidades menores ou nas chapas para
vereador —postos de menor importância na disputa.
De acordo com o
TSE, de todas as 553,5 mil candidaturas registradas até esta terça-feira (13),
o que incluía concorrentes a prefeito, vice ou vereador, 33,4% eram de
mulheres, um recorde
Mas, nas grandes
cidades, a história é diferente. Levando-se em conta só as capitais, entre os
35 candidatos inscritos para disputar o comando de Belém, São Luís e Manaus,
por exemplo, não há nenhuma mulher. Entre as legendas, nem mesmo o Partido da
Mulher Brasileira lançou mais mulheres do que homens nas principais disputas.
Dos seus 13 candidatos a prefeito nessas cidades, 9 são homens. A Folha não
conseguiu falar com a direção do partido.
Entre os partidos
médios e grandes, PTB, DEM, Novo, MDB, Avante, Solidariedade, Republicanos e
PSL lançaram mais de 90% de homens para a disputa às prefeituras dos grandes
centros urbanos.
Os únicos cujas
mulheres representaram mais de 30% dos candidatos foram os nanicos PMB, UP,
PSTU, além do PSOL (47%). Já em relação aos negros, os dados gerais também
mostram que, pela primeira vez na história, candidatos autodeclarados pretos e
pardos são maioria em relação aos que se declaram brancos —50% contra 48%.
Neste ano, a
Justiça determinou que os partidos distribuam de forma igualitária recursos de
campanha entre seus candidatos brancos e negros. Mas assim, como no caso das
mulheres, quando se trata da definição dos principais postos na disputa
eleitoral, ainda prevalece a opção pelos brancos.
Entre os candidatos
a prefeito no "top-95" da cidades brasileiras, eles representam 70%.
Ou seja, 7 de cada 10 concorrentes. Pardos são 20% e pretos, 9%. A lista de
candidaturas mostra, por exemplo, que todos os 39 concorrentes a comandar as
capitais da região Sul —Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis—são brancos.
Entre os partidos,
o Novo se destaca pela quase total falta de diversidade tanto de gênero quanto
de cor. Das 23 candidaturas que lançou nas grandes cidades, 21 são homens
brancos. Só há uma mulher, Juliana Benicio (Niterói, no Rio de Janeiro) e um
autodeclarado pardo, Professor Agliberto (São José dos Campos, em São Paulo).
Em nota, o Novo disse
que cresce em ritmo constante e trabalha para que sua mensagem chegue a um
número cada vez maior de cidadãos. "O objetivo do partido é, e sempre
será, contribuir para fortalecer a representatividade de ideias na política,
independente de cor, credo, gênero e orientação sexual.”
Candidata a
vereadora pelo Novo em São Paulo, a advogada Naira Sathiyo, 24, diz que o Novo,
assim com outros partidos, ainda deixa a desejar na questão da
representatividade, mas que tem como um dos pontos positivos o processo seletivo
de candidatos em igualdade de condições, sem a necessidade de apadrinhamentos
políticos.
"Eu vejo a
questão da diversidade como um dos pontos mais importantes a ser debatido na
sociedade, e em relação ao qual precisamos evoluir muito, não só na política",
diz.
Os únicos partidos
em que há pelo menos 40% de negros são PMN, Patriota, PC do B, PSOL, DC PCB, UP
e PSTU. Para Irapuã Santana, que é doutor em Direito pela UERJ (Universidade
Estadual do Rio de Janeiro) e . advogado voluntário da Educafro, o quadro nas
principais cidades do país mostra como é importante a decisão da Justiça de
forçar os partidos a dividir as verbas de campanha de forma igualitária entre
brancos e negros.
"A falta de
dinheiro reverbera na falta de candidatura", afirma Irapuã, segundo quem a
perspectiva de não ter acesso aos recursos de campanha desestimula a
participação dos negros na política.
Conforme a Folha
mostrou em várias reportagens, os principais partidos políticos resistem em
abrir espaço para candidatos negros, o que reduz a diversidade na política,
especialmente nos principais postos de comando.
Em 2016, por
exemplo, dos 26 prefeitos de capital eleitos, 22 eram brancos, 4 pardos e
nenhum preto. Naquela eleição, menos de 30% das vagas e das verbas de campanha
para a disputa às prefeituras foi direcionado a pretos e pardos.
De acordo com o
IBGE, pretos e pardos representam 56% da população brasileira. Mulheres, 52%.
Fonte: Folha de S.
Paulo
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